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sexta-feira, 17 de abril de 2020

A estrutura narrativa dos sonhos


Estudo de Joseph Noel Paton: Sonho de uma noite de verão
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) chegou a analisar cerca de dois mil sonhos por ano. Baseado nesta experiência empírica, ele sugeriu que seria possível reconhecer um certo padrão estrutural nas narrativas oníricas.
Não por acaso, a estrutura dos sonhos observada por Jung apresentaria semelhança com a das estruturas narrativas clássicas, como a do drama (JUNG, 2012a § 561). Como se sabe, no campo da Comunicação e das Letras, há uma sólida tradição nos estudos sobre a forma das narrativas produzidas no estado de vigília, sendo que o primeiro relato conhecido foi proposto bem antes de Jung por outro estudioso europeu, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.), mais precisamente em A Poética (ARISTÓTELES, 2008).
Haveriam paralelos entre as narrativas oníricas observadas por Jung e as demais narrativas, como a que observamos hoje nos ecossistemas midiáticos? A princípio, não parece improvável propor a hipótese positiva. Mas, caso ela se confirmasse, quais seriam as consonâncias e as divergências das narrativas produzidas pelos seres  humano no estado de vigília e no de sono?
No campo da teoria literária, um dos estudos mais clássicos de esquema narrativo foi proposto na década de 1970 pelo linguista búlgaro naturalizado Tzvetan Todorov 1939-2017) (TODOROV, 1970).
Para fins comparativos, empregaremos um modelo simplificado de análise da estrutura narrativa utilizado pelos críticos literários brasileiros Benjamin Abdala Júnior (ABDALA JUNIOR, 1995) (1995) e Cândida Vilares Gancho (GANCHO, 2006), que denomina como seis os principais elementos da narrativa: 1) enredo; 2) personagens; 3) tempo; 4) espaço; 5) narrador.
Ressaltamos que nas narrativas que ocorrem no estado de vigília, como as jornalístico-literárias, “tais elementos estão presentes em todas as formas de narrativa, independentemente, de serem ficcionais, históricas ou jornalísticas” (MARTINEZ et al., 2017). Mas estariam esses cinco elementos também presentes nos sonhos? Para investigar esta hipótese, vamos relacioná-los aqui à perspectiva junguiana, que sugere quatro fases: 1) indicação de lugar; 2) desenvolvimento da ação; 3) culminação ou peripécia; 4)  lise, solução ou o resultado produzido pelo sonho (JUNG, 2012b § 561-562). Este estudo não leva em consideração a estrutura mítica dos sonhos em sua relação com a construção de histórias de vida em jornalismo, que foi objeto de minha tese de doutorado (MARTINEZ, 2008), que será investigado posteriormente.

  1. Exposição: indicação de lugar, personagens e situação inicial (espaço / personagens / tempo)
Usamos para fins comparativos das narrativas oníricas relatos do próprio Jung e, das clássicas, um trecho da obra de Todorov extraído do Decameron do poeta italiano Giovanni Boccacio (1313-1375):
Um monge leva uma jovem a sua cela e faz amor com ela. O abade fica sabendo e se prepara para puni-lo severamente. Mas o monge percebe que o abade descobriu e prepara-lhe uma armadilha, deixando sua cela. O abade entra e sucumbe aos encantos da moça, enquanto o monge o observa, por sua vez. Quando finalmente o abade pretende punir o monge, este lhe faz notar que ele acaba de cometer o mesmo pecado. Resultado: o monge não é punido (I, 4). Isabetta, jovem monja, está com seu amante na cela. As outras freiras percebem, ficam com ciúmes dela e vão acordar a abadessa para que esta puna Isabetta. Mas a abadessa estava na cama com um abade; por isso tem de sair às pressas e põe os calções do abade na cabeça ao invés da coifa. Trazem Isabetta à igreja e a abadessa começa a fazer-lhe um sermão, quando Isabetta nota os calções em sua cabeça. Ela os aponta a todos; assim a punição é evitada (IX, 2) (TODOROV, 1970, p. 83).
A narrativa, como pode ser observada, principia pela indicação de local, no caso a cela do religioso. Jung observa esta mesma característica na análise dos sonhos:
O sonho começa, por exemplo, com uma indicação de lugar, como “Vejo-me numa rua; é uma avenida (1): ou “Acho-me num grande edifício que me lembra um hotel” (2) etc. (JUNG, 2012a § 561).
O espaço parece ser comum a ambas expressões narrativas, oníricas e no caso ficcional. No primeiro caso, literário, estamos falando do que o jornalista-escritor estadunidense Tom Wolfe chamaria, na década de 1970, de símbolo de status de vida (WOLFE, 2005; WOLFE; JOHNSON, 1973). Isto é, a simples descrição de que a narrativa principia numa cela de um monge celibatário, ainda que econômica, permite ao leitor visualizar, por meio de imagens endógenas (BELTING, 2007), um quarto parcamente mobiliado.  Já no caso dos sonhos também estamos no campo simbólico, mas não social e sim pessoal, no caso dos sonhos pequenos e médios, como Jung os define (JUNG, 2012, § 561).
O que significa que, tanto no contexto junguiano quanto no das narrativas tradicionais, as palavras usadas não têm apenas um único sentido, ou que este sentido não é comum a todos. No caso específico do relato de um sonho, estes significados são latentes, uma vez que ainda não foram assimilados pelo consciente. É preciso, portanto, que o analista e o analisando descubram, em conjunto, o que aquele grande edifício, por exemplo, significa para aquele indivíduo em particular, uma vez que o sonhador mesmo evocou que ele parece um hotel.
    1. Tempo
As indicações de lugar são frequentes em ambos casos, mas o mesmo não acontece nas indicações temporais. Estas ocorrem com frequência no caso das narrativas tradicionais, sendo uma condição sine qua non nos relatos jornalísticos, por exemplo. Já segundo Jung o mesmo não pode ser dito no caso dos sonhos, onde as indicações de tempo “são mais raras” (JUNG, 2012a § 561).
    1. Personagens/narrador
Como são feitas por seres humanos para seres humanos, as narrativas, sejam de qualquer natureza, demandam personagens. Na narrativa medieval escrita por Boccaccio, por exemplo, há um casal que desencadeia a história com seu amor proibido. Após a indicação de lugar, o mesmo costuma ocorrer no universo dos sonhos:
Segue-se, muitas vezes, uma indicação referente aos personagens da ação: por exemplo: “Saio a passear com meu amigo X em um parque público. Numa bifurcação me encontro, de repente, com a senhora F” (3); ou: Estou sentado num compartimento da estrada de ferro em companhia de meu pai e minha mãe”(4); ou: “Estou de uniforme militar, cercado por numerosos camaradas de serviço (5); etc. (JUNG, 2012a § 561)
Aqui se evidencia uma das grandes diferenças do método de ampliação de sonhos junguiano em relação aos estudos jornalístico-literários das narrativas. No caso da análise junguiana, há uma distinção entre o objeto e o sujeito. Isso significa que, ainda que o sonhador conheça os personagens, vamos supor a senhora F, trata-se não dela propriamente dita, mas de uma representação que o sonhador está projetando sobre ela, como se fosse um suporte ou uma tela.
Portanto, no caso do sonho, a senhora F não representa ela mesma, mas a representação imagética que o sonhador dela faz. Para compreendê-la, como no caso do grande edifício que lembra ao sonhador um hotel, é preciso entender que a imagem guarda apenas uma relação exterior com o objeto. É preciso também neste caso que o analista mergulhe, com o sonhador, no que Jung chama de reconstituição do contexto. Que consiste, segundo ele, em “procurar ver, através das associações do sonhador, para cada detalhe mais saliente, em que significações e com que nuança ele lhe aparece” (JUNG, 2012 § 542).
Neste âmbito, a análise literária e a análise dos sonhos guardam alguma relação. “Meu modo de proceder não difere daquele usado para decifrar um texto difícil de ler (JUNG, 2012 § 542). Ainda assim, não há garantia de se familiarizar totalmente com o conteúdo. “O resultado obtido com esse método nem sempre é um texto imediatamente compreensível, mas muitas vezes não passa de uma primeira e preciosa indicação que comporta inúmeras possibilidades” (JUNG, 2012 § 542).
Há outro ponto essencial para se compreender a linguagem dos sonhos no quesito personagens. “Toda a elaboração onírica é essencialmente subjetiva e o sonhador funciona, ao mesmo tempo, como cena, ator, ponto, contrarregra, autor, público e crítico” (JUNG, 2012 § 510). Em outras palavras, “todas as figuras do sonho [são] (...) traços personificados da personalidade do sonhador (JUNG, 2012 § 510). Todas são representações geradas pelo inconsciente do que, em análise discursiva literária, seriam designados por narrador/autor.
  1. Desenvolvimento da ação (enredo)
A seguir temos o que Aristóteles chamaria de intriga (ARISTÓTELES, 2008), a sequência de ações que dá início ao enredo propriamente dito. Ao saber o que está acontecendo, o abade se prepara para punir o monge quando... Um jovem monja está com seu amante na cela, as freiras com ciúme a delatam à abadessa que....
Jung chama esta segunda fase da estrutura onírica de desenvolvimento da ação.
Vejo-me na rua; é uma avenida. Ao longe aparece um automóvel que se aproxima rapidamente. Sua maneira de movimentar-se é estranhamente insegura, e eu penso que o motorista deve estar embriagado” (1). Ou “A Sra. F. parece muito excitada e quer me sussurrar rapidamente qualquer coisa que meu amigo não pode ouvir”(3). A situação se complica de uma forma ou de outra, e se estabelece uma certa tensão, porque não se sabe o que vai acontecer (JUNG, 2012b § 562).
Na fase a seguir, o psiquiatra suíço recuperará um termo aristotélico relativo às narrativas, peripécia, que tem a função de alterar o curso dos acontecimentos em geral de maneira inesperada.
  1. Culminação ou peripécia
Nesta fase proposta por Jung, acontece algo de decisivo que altera radicalmente a situação. Um exemplo: “De repente sou eu que estou no carro e aparentemente sou eu mesmo o motorista embrigado” (JUNG, 2012a § 563). Nesse caso em particular, a linguagem onírica faz uma relação direta com a figura do narrador. “Mas não estou embriagado. Estou apenas estranhamente inseguro e como que sem a direção do carro. Não consigo mais controlar o carro e vou com ele de encontro a um muro com grande barulho (1)” (JUNG, 2012a § 563). Outro exemplo: “De repente a Sra. F. fica lívida como um cadáver e cai desmaiada no chão (3)” (JUNG, 2012a § 563).
Se fôssemos comparar este excerto com o trecho extraído de Boccaccio, teríamos: ao saber da aventura amorosa do monge dentro de sua abadia,   o abade se prepara para puni-lo, mas também cai em tentação com a jovem deixada sozinha na cama.  Com ciúmes da jovem monja, as freiras a denunciam para a abadessa, mas ela estava na cama com um abade e, na pressa de se vestir, num ato falho como diria o psicanalista alemão Sigmund Freud (1856-1939),  coloca na cabeça o calção dele em vez da coifa, isto é, da sua touca.
  1. Lise, solução ou resultado
No caso da narrativa literária, o monge mostra ao abade que ele cometeu o mesmo pecado. Já a  abadessa começa a fazer em seu púlpito um sermão para a monja, que aponta o calção do abade na cabeça dela na frente de todos. Em ambos os casos, a punição é evitada (IX, 2) (TODOROV, 1970, p. 83).
E no caso dos sonhos? Jung diz que nem todos apresentam esta quarta fase, mas oferece alguns exemplos.
“Observo que a parte dianteira do carro ficou toda amassada. É um carro alheio, que eu desconheço. Eu próprio nào estou ferido. Reflito com certa preocupação sobre minha responsabilidade” (1). Ou: “Pensamos que a Sra. F. está morta. Mas trata-se, evidentemente, de um desmaio passageiro. Meu amigo X exclama: “É preciso que eu vá buscar um médico” (3). A última fase mostra-nos a situação final que é, ao mesmo tempo, o resultado “procurado”. No sonho 1 é evidente que, depois de uma certa confusão de descontrole, surge uma nova consciência reflexa, ou, antes, deveria surgir, porque o sonho é compensador. No sonho 3 o resultado consiste na ideia de se aconselhar a assistência de uma terceira pessoa que seja competente. (JUNG, 2012ª § 564).
Como ficariam estes sonhos em relação aos seus sonhadores? 
O primeiro indivíduo (1) é um homem que perdeu um pouco a cabeça em circunstâncias difíceis e receava que acontecesse o pior. O segundo sujeito (3) estava em dúvida quanto se devia ou não recorrer ä ajuda da psicoterapia para a sua neurose. Naturalmente estas indicações não constituem ainda a interpretação so sonho; elas apenas esboçam a situação inicial. (JUNG, 2012ª § 565).
Jung ressalta que “essa divisão em quatro fases pode ser aplicada, praticamente sem dificuldade especial, à maior parte dos sonhos, uma confirmação de que o sonho em geral tem uma estrutura “dramática” (JUNG, 2012ª § 565).
A nosso ver, o resultado deste nosso estudo também sugere que há correlação dos estudos de narrativas produzidas e lidas no estado de vigília com as narrativas oníricas, revelando-se um campo fértil em que novas pesquisas podem ser desenvolvidas no futuro.
Referências
ABDALA JUNIOR, B. Introdução à análise da narrativa. São Paulo: Scipione, 1995.
ARISTÓTELES. Poética. 3. ed. Lisboa: Gulberkian, Fundação Calouste, 2008.
BELTING, H. Antropologia de las imagens. Madri: Katz, 2007.
GANCHO, C. V. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2006.
JUNG, C. G. Da essência dos sonhos. In: A natureza da psique. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012a. p. 235–253.
JUNG, C. G. A aplicação prática da análise dos sonhos. In: Ab-reação, análise dos sonhos e transferência (OC 16/2). 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012b. p. § 294-352.
MARTINEZ, M. Jornada do Herói: estrutura narrativa mítica na construção de histórias em jornalismo. 1. ed. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008.
MARTINEZ, M. et al. Assessoria de imprensa, narrativas midiáticas e saúde: simbiose de fontes, jornalistas, leitores, personagens e afetos. Intexto, v. 38, n. jan-abr, p. 197–224, 2017.
TODOROV, T. As estruturas narrativas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1970.
WOLFE, T. Radical chique e o novo jornalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
WOLFE, T.; JOHNSON, E. W. The new journalism. New York: Harper & Row, 1973.

Dra. Monica Martinez, analista em formação do IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa

Como citar este artigo
MARTINEZ, Monica. A estrutura narrativa dos sonhos. Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (Ijep). Disponível em: <https://www.ijep.com.br/artigos/show/a-estrutura-narrativa-dos-sonhos. Acesso em 17 abr. 2020. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Sonhos: uma ponte para o inconsciente


Sonhos: uma porta de entrada para o inconsciente
Como é sabido, a física moderna utiliza a equação E=mc2  como parte da Teoria ou Princípio da Relatividade, desenvolvida pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955). Na minha prática como analista junguiana, eu me norteio pela equação Ψ=3SC. De um lado, empregando o  símbolo Ψ (lê-se: "psi"), letra  do alfabeto grego que simboliza a área da psicologia. Do outro, os pilares dos métodos da psicologia junguiana: a  compreensão dos sintomas, sincronicidades e dos sonhos, bem como o emprego das terapias criativas, na tentativa de, quando necessário, reorganizar a contraparte não física do ser humano que chamamos de psique.

Este artigo faz uma abordagem introdutória dos sonhos, que o psicoterapeuta junguiano Robert H. Hopcke denomina de "pedra fundamental" da técnica analítica junguiana(HOPCKE, 2012, p. 35). E porque é fundamental? Em seu texto mais recomendado sobre o assunto (JUNG, 2012), Jung deixa claro que os sonhos têm um significado prático fundamental porque são uma expressão direta do inconsciente, sendo um canal para a compreensão das etiologias ( determinação das causas e origens) das neuroses. Criado pelo médico escocês William Cullen (1710-1790)  em 1787, o termo neurose indica transtornos que, embora não severos,  se instalam como um aviso de que algo não vai bem, obviamente causando tensão e interferindo em alguma medida na capacidade do indivíduo se ajustar ao seu meio. 

O objetivo da análise dos sonhos em terapia é "a descoberta e a conscientização de conteúdos até então inconscientes" (JUNG, 2012,  § 294). A abordagem freudiana entende os sonhos como fachadas, que dissimulam os conteúdos oníricos. Já a junguiana os entende como uma linguagem simbólica, como quando nos deparamos frente a um texto desconhecido. Assim, para Jung, os sonhos são o que são.

Para decifrá-los, por assim dizer, Jung propõe um método simples e eficaz. Enquanto um psicanalista usa seu conhecimento para interpretar o sonho trazido pelo paciente, o analista junguiano trabalha a partir do contexto que cerca a narrativa onírica na perspectiva do analisando. "É só a partir do conhecimento da situação consciente que se pode descobrir que sinal dar aos conteúdos inconscientes" (JUNG, 2012,  § 333).

O psiquiatra suíço lembra que muitas vezes "os sonhos iniciais são de uma clareza e transparência espantosas" (JUNG, 2012,  § 313), no que concordo com ele. Certa vez um paciente me trouxe na primeira consulta  um sonho no qual sua privada transbordava de material fecal, e a água que impulsionava o conteúdo para fora era clara e cristalina. Ao cair no chão, as fezes se transformavam em tartarugas, cujo significado em várias culturas pode ser ligado ao masculino e feminino, ao humano e ao cósmico,  como suporte do mundo e garantia de estabilidade (CHEVALIER, 1988).

Por mais promissor que um sonho desta natureza seja como parte do diagnóstico, funcionando como um prognóstico e norteando o processo analítico, o que importa na análise junguiana dos sonhos num primeiro momento não é o que o analista sabe sobre o símbolo. Como uma parteira, ele deve deixar aflorar o que o analisando sabe. O que importa, portanto, é a comprensão do paciente desse conteúdo que ainda não é consciente.

Para isso, Jung recomenda foco no contexto do sonho, sem se dispersar muito nas associações livres. "As associações livres nos fazem descobrir os complexos, mas, raramente, o sentido de um sonho", adverte Jung (JUNG, 2012,  § 320). "Para compreender o sentido de um sonho tenho que me ater tão fielmente quanto possível à imagem onírica", explica (JUNG, 2012,  § 320). Voltemos à tartaruga. Na cabeça do analista rondam algumas perguntas possíveis: qual é o contexto dessa tartaruga para aquele analisando específico? O que havia ocorrido nos dias precedentes? Há algo no seu histórico ligado à esta imagem? Com qual finalidade o insconsciente teria empregado aquela imagem? Para que ela foi usada? Ajuda também ter em mente a regra básica que remete à teoria das compensações do sistema autorregulador da psique: se o que falta de um lado cria um excesso do outro, que atitude consciente estaria sendo compensada pelo sonho? (JUNG, 2012,  § 330). Se o analisando verbalizar espontaneamente que a tartaruga para ele representa as forças ctônicas de estabilidade, a pergunta seria: o que o estaria desestabilizando, deixando sem chão naquele momento? Neste caso ajuda sempre remeter à queixa que o trouxe até ali para não se perder na seara de problemas que podem emergir concomitantemente. É por isso que em análise junguiana não estamos propondo interpretações, mas ampliações de sonhos.

Não raro, a clareza dos sonhos iniciais se perde no processo. Neste momento o analisando pode apresentar uma pressa neurótica e o desejo de progredir mais e rápido. Na minha experiência clínica, o insconsciente costuma enviar sonhos de alerta, como elevadores que sobem velozmente em prédios antigos sem segurança, locais muito altos onde o indivíduo se sente isolado, desprotegido, e outras imagens que sugerem que é preciso reduzir o ritmo. Em geral, o sonhador não percebe, por si só, de maneira consciente, essa necessidade.

O fato é que nesses momentos a tentação pode ser grande, por parte do analista, de entrar com sua erudição e "seu" conteúdo e "resolver o problema" para o analisando. O que está longe de ser recomendado, uma vez que o próprio inconsciente está emitindo sinais claros de que há uma situação de conflito ainda não resolvida, que pede mais tempo para ser transcendida. "Em outras palavras, é melhor renunciar a tudo o que se sabe melhor, e de antemão, para pesquisar o que as coisas significam para o paciente" (JUNG, 2012,  § 342).

Na assimilação gradual dos conteúdos oníricos,"é de extrema importância não ferir e muito menos destruir os valores verdadeiros da personalidade consciente" (JUNG, 2012,  § 338). O motivo é simples: o processo de análise junguiana se faz por meio do ego do analisando. Se o desestruturarmos, "não haveria mais quem poderia assimilar" (JUNG, 2012,  § 338). E o processo seria no mínimo ineficaz. Da mesma forma, é importante o analista considerar as convicções filosóficas, religiosas e morais conscientes do analisando, para trabalhar em parceria com elas, e não impor seu sistema de crença e valores.

Ir contra a maré, por assim dizer, pode por em risco todo o processo analítico. "Falha também por antecipar o desenvolvimento do paciente, o que o paralisa" (JUNG, 2012,  § 314). Nesse momento, é preciso ter paciência de ambos lados, como numa gestação que ainda não chegou a termo. Até porque Jung adverte que "existem sonhos que simplesmente não são compreendidos pelo médico, nem pelo paciente" (JUNG, 2012,  § 318). Há, claro, limites ao método de ampliação, e este é um deles.

Por outro lado, para que o método possa ser empregado com o máximo de chances de ser bem-sucedido, é vital que os analisandos mantenham um diário, registrando de forma clara seus sonhos logo ao acordarem, pois se trata de material volátil que segundos depois do despertar pode estar perdido. Um cadernino na mesa de cabeceira ainda é a melhor forma para fazer anotações, se bem que o onipresente smartphone está se tornando um equipamento indispensável de registro para muitos analisandos. De toda forma, é importante não cair na tentação e fazer o registro por meio da gravação de um áudio. Isso porque a escritura ajuda o conteúdo a se fixar no ego, estimulando o diálogo entre o inconsciente e o consciente.

O analista junguiano Daniel Gomes dá uma dica interessante: "quando se lembrar de um sonho, encare-o com a curiosidade de uma criança, mas com grande respeito, pois estes sonhos podem conter o mapa com os caminhos de sua realização" (GOMES, 2016).

Para a sessão, é importante o analisando levar este registro e, se possível, juntamente com o material referente ao seu contexto. Jung salienta que faz parte do método encorajar os analisandos a trabalhar ativamente na elaboração de seus conteúdos oníricos, aprendendo "a lidar corretamente com seu inconsciente, mesmo sem o médico" (JUNG, 2012,  § 322).

O resultado de quando o processo está bem encaminhado é visível, pois no momento em que o analisando passa a assimilar seus conteúdos inconscientes os níveis de tensão e ansiedade vão sendo gradualmente diminuídos, uma vez que o conteúdo reprimido ou que era visto como perigoso passa a ser integrado.
Finalmente, uma andorinha sozinha não faz verão. Jung sugere que a ampliação "só adquire uma relativa segurança numa série de sonhos, em que os sonhos posteriores vão corrigindo as incorreções cometidas nas interpretações anteriores" (JUNG, 2012,  § 322). Sim, o percurso pode sofrer desvios - afinal analisando e analista são humanos -, mas o curso correto é possível de ser retomado se o foco continuar nos conteúdos trazidos pelos sonhos.  Mas os sonhos seriados já são um tema para um próximo artigo.

Referências
CHEVALIER, J. G. A. Dicionário dos símbolos. 24. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1988.
GOMES, Daniel. Os sonhos e seu papel na historia da humanidade. 5 jul 2016. Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (Ijep). Disponível em: <https://www.facebook.com/institutojunguiano/posts/os-sonhos-e-seu-papel-na-historia-da-humanidadepara-algumas-pessoas-sonhar-n%C3%A3o-p/1174413959281650/>. Acesso em: 30 dez. 2018.
HOPCKE, R. H. Guia para a obra completa de C. G. Jung. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
JUNG, C. G. A aplicação prática da análise dos sonhos. In: Ab-reação, análise dos sonhos e transferência (OC 16/2). 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. p. § 294-352.
Dra. Monica Martinez, analista em formação do IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa, especialista em Psicologia Junguiana, jornalista, Atende na Vila Madalena, zona Oeste de São Paulo, e na Granja Viana (Cotia, SP). E-mail: analisejunguianasp@gmail.com.

Como citar este artigo
MARTINEZ, Monica. Sonhos: uma ponte para o inconsciente. Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (Ijep). Disponível em: <https://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=427&ref=sonhos-uma-ponte--para-o-inconsciente#conteudo>. Acesso em: 8 ago. 2019.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Sonhos projetivos: uma ponte para o futuro





Para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), o objetivo do tratamento de neuroses seria o de estalecer a harmonia possível entre o consciente e o inconsciente.

O estudo dos sonhos e a consequente proposição de um método para emprego na prática terapêutica foi uma tarefa à qual Jung se dedicou ativamente ao longo da vida.

Não é uma prática simples, nem a ser feita de forma leviana. Em um texto publicado na revista Ciba em 1945 – portanto quando ele tinha já tinha 70 anos – Jung dizia:

A compreensão do sonho, de fato, é um trabalho tão difícil, que há muito tempo eu estabeleci como regra, quando alguém me conta um sonho e pede minha opinião, dizer, antes do mais, a mim mesmo: `Não tenho a mínima ideia do que este sonho quer significar. Após esta constatação, posso me entregar ao trabalho da análise propriamente dita do sonho (JUNG, 2012a, § 533).

Jung propunha quatro funções para os sonhos, dividindo-as nas seguintes categorias: compensadores, redutores ou retrospectivos, reativos e prospectivos (JUNG, 2012a, § 499).

1)    Sonhos compensadores: o psiquiatra suíço dizia que os sonhos "comportam-se como compensações da situação da consciência em determinado momento" (JUNG, 2012a, § 487). Pois isso, para analisá-los  corretamente, é preciso "possuir um conhecimento acurado da consciência neste preciso momento, porque o sonho encerra o seu complemento inconsciente, ou seja, o material constelado com o estado momentâneo da consciência" (JUNG, 2012a, § 477).
2)    Sonhos redutivos ou retrospectivos:  Jung entendia que certos sonhos tentam autorregular a psique de indivíduos "cuja atitude consciente e esforço de adaptação ultrapassam as capacidades individuais, ou seja, parecem melhores e mais valiosos do que são na realidade" (JUNG, 2012a, § 496). Ele tenderia "a desintegrar, a dissolver, depreciar, e mesmo destruir e demolir" (JUNG, 2012a, § 496). A função negativamente compensadora, também chamada de função redutora do inconsciente, teria um efeito salutar, pois afetaria positivamente apenas a atitude, não a personalidade do sonhador. Em outras palavras, "baixaria sua bola", desinflando o ego.
3)    Sonhos reativos: Jung alerta que esse tipo de sonho, que parece ser apenas a reprodução de uma experiência consciente carregada de afeto, demanda a investigação do "aspecto simbólico que escapou ao sujeito e que é o único fator que provoca a reprodução onírica desta experiência" (JUNG, 2012a, § 499). Ele os diferencia dos sonhos de vítimas de guerras, por exemplo, que  desencadeiam "muitos sonhos reativos puros nos quais o trauma é o fator mais ou menos determinante" (JUNG, 2012a, § 499). "A análise (...) pode resolver a questão porque, nesse caso, a reprodução da cena dramática se interrompe se a interpretação é correta, ao passo que a reprodução reativa não é afetada pela análise do sonho" (JUNG, 2012a, § 501).
4)    Sonhos prospetivos: segundo Jung, a função prospectiva sugere uma antecipação, oriunda do inconsciente, de atividades conscientes futuras. Não raro, constitui um esboço de solução de um conflito. "Seria injustificado qualificá-los como proféticos, pois, no fundo, não são mais proféticos do que um prognóstico médico ou metereológico", aponta Jung(JUNG, 2012a, § 493). Seriam uma combinação de possibilidades que podem ou não concordar, parcial ou integralmente, com o curso real que os acontecimentos tomarão. Como teriam o potencial de combinar percepções, pensamentos e sentimentos, bem como vestígios subliminares da memória que não se encontram mais na consciência, do ponto de vista de prognóstico "o sonho se encontra muitas vezes em situação mais favorável do que a consciência (JUNG, 2012a, § 493).

Apresentado este sistema analítico, vamos agora comentar três sonhos que focam na função prospectiva.

O primeiro deles, que usaremos aqui como exemplo, foi relatado pelo próprio psiquiatra no artigo de 1945 (JUNG, 2012b § 542):

Certa vez tratei um jovem que me contou, na anamnese, que estava noivo, e de uma maneira muito feliz, de uma jovem de "boa família". Nos sonhos, a personagem desta jovem assumia muitas vezes um aspecto pouco recomendável. Do exame do contexto deduziu-se que o inconsciente do paciente associava à figura da noiva toda espécie de histórias escandalosas, provenientes de outra fonte, o que lhe parecia absolutamente incompreensível e a mim naturalmente não menos também. A repetição constante destas combinações me levou, contudo, a concluir que existia no rapaz, apesar de sua resistência consciente, uma tendência inconsciente em fazer sua noiva aparecer  sob essa luz equívoca. Ele me disse que, se tal coisa fosse verdadeira, isto representaria para ele um autêntico desastre. Sua neurose se manifestara algum tempo depois da festa do noivado. Embora me parecessem inconcebíveis e sem sentido, as suspeitas a respeito da sua noiva me pareciam constituir um ponto de importância tão capital, que eu lhe aconselhei a fazer algumas investigações a respeito. As pesquisas mostraram que as suspeitas eram fundadas e o "choque" causado pela descoberta desagradável não só não abateu o paciente, mas o curou de sua neurose e também de sua noiva. (JUNG, 2012b § 542).

Para Jung, os sonhos podem apresentar três possibilidades. A primeira é a compensatória: "Se a atitude consciente a respeito de uma situação dada da vida é fortemente unilateral, o sonho adota um partido oposto" (JUNG, 2012b § 546), o que parece ter sido o caso da noiva de "boa família", como se dizia na época. A segunda possibilidade é a complementar, quando "a consciência guarda uma posição que se aproxima mais ou menos do centro, o sonho se contenta em exprimir variantes (JUNG, 2012b § 546). Já se a atitude consciente é adequada,"o sonho coincide com esta atitude e lhe sublinha assim as tendências, sem perder a autonomia que lhe é própria" (JUNG, 2012b § 546).

Um segundo exemplo aponta a natureza de alerta dos sonhos prospectivos. Certa vez um médico amigo de Jung, fã do alpinismo, caçoou dele, questionando se podia ajudá-lo a analisar um "sonho idiota":

Eu estava escalando uma montanha muito alta, por um lado íngreme, coberto de neve. Vou subindo cada vez mais alto. O tempo está maravilhoso. Quanto mais subo, mais me sinto bem. Tenho a sensação de que seria bom se eu pudesse continuar subindo assim, eternamente. Chegando ao pico, uma sensação de felicidade e arrebatamento me invade; esta sensação é tão forte, que tenho a impressão de que poderia subir ainda mais e entrar no espaço cósmico. E é o que faço. Subo no ar. Acordo em estado de êxtase (JUNG, 2012b § 323).

Como sabia que nada faria o amigo abandonar o alpinismo, Jung pediu-lhe que ao menos deixasse de escalar sozinho. O amigo riu do conselho. "Nunca mais o vi. Dois meses depois, sofreu o primeiro acidente" (JUNG, 2012b, § 324). Estava desacompanhado, foi soterrado por uma avalanche e salvo no último minuto por uma patrulha militar, que casualmente se encontrava por perto. Três meses depois, o acidente foi fatal. Acompanhado apenas de um amigo mais jovem, o médico alpinista estava já descendo da montanha quando pisou em falso, caiu sobre a cabeça do amigo que o esperava abaixo e ambos rolaram juntos para o precipício. "A cena foi presenciada por um guia que se encontrava mais embaixo. Foi este o êxtase em sua plenitude" (JUNG, 2012b, § 325).

O terceiro exemplo vem de um sonho do próprio Jung. Foi descrito em artigo escrito pela Profa. Dra. Lilian Wurzba, docente do Ijep, a partir de relatos na introducão feita por Jung ao Livro Vermelho (JUNG, 2010), bem como em Memórias, Sonhos e Reflexões (JUNG; JAFÉ, 1989). "Depois das visões que tivera no final de 1913 e dos sonhos no início de 1914, sem qualquer sucesso em interpretá-los, Jung chegou a pensar que estivesse com o `espírito doente`" (WURZBA, 2018). "Como psiquiatra que era, pensou estar `a caminho de ‘fazer uma esquizofrenia`, como revelou a Mircea Eliade em uma entrevista para a revista Combat, em 1952":

Eu estava justamente nesta época preparando uma conferência sobre esquizofrenia, para ser lida num congresso em Aberdeen, e não me cansava de repetir para mim mesmo: "estarei falando de mim mesmo! Muito provavelmente, enlouquecerei depois de ler a conferência". O congresso teria lugar em julho de 1914 - exatamente no período em que, nos meus três sonhos, via-me viajando pelos mares do sul. A 31 de julho, imediatamente após a minha conferência, soube pelos jornais que eclodira a guerra. Finalmente, entendi tudo. E quando desembarquei na Holanda, no dia seguinte, ninguém era mais feliz do que eu. Agora tinha a certeza de que nenhuma esquizofrenia me ameaçava. Compreendi que os meus sonhos e as minhas visões me chegavam do subsolo do inconsciente coletivo. O que me restava agora fazer era aprofundar e validar essa descoberta. E isso é o que estou tentando fazer há 40 anos (McGuirre; Hull apud WURZBA, 2018, p. 213-214).

O interessante neste sonho registrado na entrevista (MCGUIRRE; HULL, 1982, p. 213-214)é que ele traz a tentativa de explanação que Jung da função prospectiva dos sonhos ligada à noção de inconsciente pessoal e coletivo. Nos dois primeiros casos, podemos deduzir que se tratavam de sonhos ligados à esfera pessoal, que está mais próxima da consciência. Já o sonho de Jung certamente estava mais ligado ao inconsciente coletivo, visto que provêm de uma camada mais profunda. Daí a dificuldade para compreendê-los, visto que apenas o material associativo do sonhador, baseado em relações pessoais ou experiências de vida, são escassos para prognosticar um conflito como a Primeira Guerra Mundial, que ceifaria vinte milhões de vidas.

Seja qual for a possibilidade que pareça mais sensata, nunca é demais lembrar o alerta de Jung, de que "toda interpretação é uma mera hipótese, apenas uma tentativa de ler um texto desconhecido" (JUNG, 2012b § 322). Ainda assim, também de acordo com Jung, convém lembrar que toda tentativa é válida. "Por isso é raro que um indivíduo que tenha se submetido ao fatigoso trabalho de análise de sonhos com a competente assistência de um especialista (...) não veja seu horizonte se alargar e enriquecer" (JUNG, 2012a § 549).

Referências
JUNG, C. G. O livro vermelho: Liber Novus. 1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
JUNG, C. G. Da essência dos sonhos. In: A natureza da psique. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012a. p. 235-253.
JUNG, C. G. A aplicação prática da análise dos sonhos. In: Ab-reação, análise dos sonhos e transferência (OC 16/2). 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012b. p. § 294-352.
JUNG, C. G.; JAFÉ, A. Memórias, sonhos e reflexões. 11. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
MCGUIRRE, W.; HULL, R. F. C. C.G.Jung: entrevistas e encontros. São Paulo: Cultrix, 1982.
Dra. Monica Martinez, analista em formação do IJEP - Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa, especialista em Psicologia Junguiana, jornalista, Atende na Vila Madalena, zona Oeste de São Paulo. E-mail: analisejunguianasp@gmail.com

Como citar este artigo
MARTINEZ, Monica. Sonhos projetivos: uma ponte para o futuro. Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (Ijep). Disponível em: <https://www.ijep.com.br/index.php?sec=artigos&id=425&ref=sonhos-projetivos-uma-ponte-para-o-futuro#conteudo>. Acesso em: 6 jun. 2019.